Certo dia, porém, num local em que nenhuma presença humana fora sentida, intrigavam entre si a onda e o vento. A onda não entendia por que todos esses anos, por toda a existência do planeta, tivera que suportar pacientemente o seu companheiro natural, o vento. Não tinha uma noite sequer de paz (raras ocasiões) em que a onda pudera dormir sossegada. Ele não parava, era inquieto, era constante, era frio, estava sempre empurrando a pobre da onda que, sem força e até sem respostas para aquilo, nada fazia, tornava-se realmente passiva. Entretanto, um dia isso mudou, a onda caiu em si e voltou-se contra o vento, perguntando-o: _"Vento, por que insistes em ficar me importunando, será que não tens mais a fazer? E o vento, já ofendido pela objeção da onda, rebateu dizendo: _"Não importa o que tenho a fazer! Pudera ou quisera estar longe de ti, mas estamos traçando o mesmo sentido ao qual o criador do universo nos destinou." A onda, por fim não entendendo, não falou mais nada. Enquanto ambos, companheiros de uma eternidade, de infinito espaço de tempo, não se falavam, criou-se um vácuo entre suas razões, pois, ambas decerto não sabiam a real resposta para tudo aquilo, o porquê de viverem juntos e terem pensado naquilo tão tarde. O vento, muito tempo após ter ofendido sua amiga onda, disse a ela: _ "Desculpe-me, companheira, pois não soube ser gentil ao teu holocausto, a verdade é que encontrei uma possível resposta: não podemos nos separar, tu precisas de mim, eu preciso de ti, gero teu movimento, todo teu mover depende de mim, ao passo que se não fosse esta minha função natural, o que restaria de mim?" A onda assentiu, pois, agora não restava dúvida, era a resposta que ela procurava, mesmo não encontrando sentido nessa obrigatoriedade do destino, cuja principal objeção é aceitar e seguir a vida.
Assim é na vida real. Tantas coisas nos são colocadas no caminho, tantas aventuras temos de percorrer, mas, se muitas vezes não encontramos respostas, logo desistimos. A paixão é assim, o exemplo mais destacável possível. Ela nos pega de surpresa, muitas vezes pode nos fazer feliz e nos conduzir ao amor, entretanto, muitas vezes pode nos arrastar para um mundo de tristeza e melancolia que nos deixa cego - no sentido literal da palavra. Assim como as ondas precisam do vento, nós precisamos do amor.